Já ouviu falar de “baixa disponibilidade energética”?
Você sabia que se trata de uma das principais causas de lesões osteomioarticulares no esporte?
Na coluna de hoje, oferecemos um resumo prático sobre o tema.
“Baixa disponibilidade energética”, ou LEA (low energy availability), pode ser definida como uma incapacidade crônica do atleta em consumir calorias em quantidades suficientes para suprir as suas demandas esportivas e necessidades funcionais/fisiológicas – algo muito comum nos dias de hoje e não mais restrito ao ambiente esportivo profissional. Acomete também muitos dos chamados “amadores ambiciosos”.
A LEA ocasiona uma série de consequências médicas, envolvendo múltiplos sistemas orgânicos. Entre eles, estão alterações endócrino-metabólicas, imunológicas, hematológicas, psicológicas, cardiovasculares, gastrointestinais e ósseas. Veja, no quadro 1, alguns exemplos.
Quadro 1. Exemplos de consequências médicas da LEA |
Fraturas
Lesões musculares Amenorreia → Infertilidade Alterações hormonais: ↓testosterona; ↓IGF-1; ↓insulina; ↓estradiol; ↓LH e FSH; ↓leptina Baixo rendimento esportivo/perda de performance Aumento do risco cardiovascular |
Trata-se de um problema frequente?
Sem dúvida!
Estima-se que até 90% dos atletas vivenciem, em algum momento da sua carreira esportiva, um período de LEA. E, apesar de comum, muitas vezes passa despercebido pela equipe de saúde. É uma condição subdiagnosticada.
Como fazer este diagnóstico?
Para fechar o diagnóstico, usamos a equação a seguir:
Total de calorias consumidas por dia – gasto calórico estimado com exercício físico por dia / fat free mass (FFM) (massa livre de gordura – medida pela bioimpedância ou por DXA) |
Pontos de corte (para praticantes do sexo feminino):
< 30 kcal/kg de FFM/dia = baixa disponibilidade energética
30-45 kcal/kg de FFM/dia = disponibilidade energética moderada
45 kcal/kg de FFM/dia = disponibilidade energética ideal
Para o sexo masculino, os cut-offs ainda não estão tão bem estabelecidos, mas se diz que menos de 25-20 kcal/kg de FFM/dia já representam LEA no homem. Mais estudos são necessários para definir melhor essa questão; porém, enquanto esses trabalhos não aparecem na literatura, sugerimos trabalhar com a referência anterior. Não é o ideal, mas é melhor ter alguma referência para o dia a dia. Use esta!
Como tratar?
Basta adequar o aporte calórico e ao mesmo tempo reduzir a carga de treinamento (volume/intensidade). Essa é a parte fácil. O mais difícil é convencer os nossos pacientes a fazer o que precisa ser feito: comer mais e treinar menos. Missão (quase) impossível, não é mesmo?!
Acreditamos que a melhor terapia seja a prevenção, ou a educação do praticante quanto à importância de um aporte calórico condizente com o seu nível de treinamento. Lembrando sempre que isso pode mudar, de acordo com a periodização do exercício.
Referência:
1. Mountjoy M, Sundgot-Borgen JK, Burk LM, Ackerman KE, Blauwet C, Constantini N, et al. IOC consensus statement on relative energy deficiency in sport (RED-S): 2018 update. Br J Sports Med. 2018;52:687-97.
Acesse o original aqui: https://bjsm.bmj.com/
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