O hipogonadismo induzido por esteroides anabolizantes (ASIH) não é mais uma exclusividade de atletas profissionais; sua prevalência entre homens jovens e adolescentes que usam esteroides anabolizantes (EAA) está aumentando rapidamente, e se estima uma prevalência da ordem de 3% a 4,2%. Geralmente, a finalidade desse uso é a melhora da aparência física, mas a performance também é um forte motivador desses atletas amadores para o uso de EAA. A falta de informações confiáveis sobre o assunto, tanto por parte dos usuários quanto por parte dos profissionais de saúde, pode dificultar a resolução desse problema.
Esse cenário se agrava ainda mais tendo em vista que a principal fonte de busca por informações são sites onde muitas vezes há uma relativização dos riscos, bem como um certo estímulo ao uso de EAA. As drogas mais procuradas para reversão do hipogonadismo pós uso de EAA são a gonadotrofina coriônica humana (hCG), os moduladores do receptor de estrogênio (SERMs) e os inibidores da aromatase (IAs). É descrita uma supressão aguda do eixo hipotálamo-hipófise-testículo (H-H-T) pelos EAA, que são dose-dependentes e levam a uma supressão da produção endógena de testosterona.
No entanto, o termo ASIH refere-se ao fenômeno de hipogonadismo hipogonadotrófico, que persiste mesmo após a interrupção do uso exógeno de EAA, resultante do uso crônico de EAA e da inibição persistente do eixo. O grau de inibição também vai depender das doses utilizadas, da potência intrínseca do esteroide, do número de ciclos feitos ao longo da vida e da idade do usuário (quanto mais velho maior o risco), embora mesmo entre usuários crônicos a prevalência de ASIH seja da ordem de 13,33%. Durante a recuperação do eixo gonadal, pode ser necessária a adoção do HCG para promover a restauração do volume testicular adequado, pois o uso isolado de SERMS pode não ser suficiente para completar a missão. O HCG é secretado pela placenta durante a gravidez para sustentar a produção hormonal pelo corpo lúteo gravídico. Ele é estruturalmente muito semelhante ao LH e ao TSH.
Na prática, o HCG acaba funcionando como um análogo de longa duração do LH. Seu uso em homens se restringe àqueles que são portadores de hipogonadismo hipogonadotrófico e desejam recuperar da fertilidade. Não é recomendado o seu uso para finalidade esportiva, pois é considerado doping pela WADA (agência internacional antidoping), nem para finalidade estética (como na chamada dieta do HGC1, que não possui comprovação científica de eficácia).
Em usuários de EAA existem duas correntes que diferem em relação ao momento de utilizar o HCG. Alguns defendem o uso durante os ciclos para evitar a atrofia testicular e outros defendem o uso após o ciclo.
Lembrando que aqui no EndoEsporte somos contra o uso de esteroides anabolizantes com finalidade estética e de performance, e que a finalidade do blog e do post é alertar sobre esse cenário e oferecer suporte para médicos e pacientes sobre caminhos viáveis para minimizar os riscos e os prejuízos gerados por tais práticas.
O uso do HCG não garante a reativação do eixo H-H-T e na maioria das vezes é necessário o uso de SERMS2. Também é descrito na literatura um aumento da probabilidade do surgimento de ginecomastia durante o uso de HCG, o que pode requerer a adoção do duo de IAs3 ou de bloqueadores de receptor de estrógeno, como o tamoxifeno.
Lembrando que o uso de HCG, mesmo nos casos citados acima, não é isento de complicações e pode haver o surgimento de acne, dor testicular, ginecomastia, fenômenos tromboembólicos, retenção hídrica, cefaleia, depressão, irritação e reações cutâneas nos locais de aplicação (eritema, dor e reações alérgicas).
Bibliografia consultada:
1. Handelsman DJ Clinical review: The Rationale for Banning Human Chorionic Gonadotropin and Estrogen Blockers in Sport. J Clin Endocrinol Metab. 2006;91(5):1646-53.
2. Karavolos S, Reynolds M, Panagiotopoulou N, McEleny K, Scally M, Quinton R. Male central hypogonadism secondary to exogenous androgen: a review of the drugs and protocols highlighted by the online community of users for prevention and/or mitigation of adverse effects. Clin Endocrinol (Oxf). 2015;82(5):624-32.
3. Stenman U-H, Hotakainen K, Alfthan H. Gonadotropins in doping: pharmacological basis and detection of illicit use. Br J Pharmacol. 2008;154(3):569-83.
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